Uma pesquisa realizada pelo Google for Startups revela que as startups enfrentam dificuldades na contratação de profissionais seniores e lidam com o desafio da fuga de talentos para outros países. Além disso, executivos apontam que a aceleração da inteligência artificial tende a agravar essa lacuna no mercado.
O ecossistema de inovação brasileiro enfrenta desafios significativos. Investidores estão se tornando cada vez mais criteriosos e as startups evitam buscar aportes que possam resultar em uma queda de valuation. Além da escassez de capital disponível, a falta de talentos qualificados é outro obstáculo, com 92% das startups acreditando que há uma carência de profissionais de tecnologia no Brasil. Esse déficit tem impacto direto no atraso no desenvolvimento dos negócios.
De acordo com o relatório "Panorama de talentos em tecnologia" do Google for Startups, realizado em parceria com a Box 1824 e a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), 253 startups foram consultadas. O estudo revelou que as áreas de tecnologia com maior escassez de profissionais estão relacionadas a soluções estruturais e aperfeiçoamento de processos de trabalho. Essas posições normalmente são ocupadas por profissionais com conhecimentos especializados, como Engenharia/Desenvolvimento, Dados, Desenvolvimento de Produto, Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina, e Cibersegurança.
Outro desafio apontado pelas startups é a falta de profissionais seniores qualificados. Cerca de 84% das startups entrevistadas afirmaram que o mercado de tecnologia brasileiro não está formando profissionais experientes o suficiente para preencher cargos que exigem mais experiência e especialização. A dificuldade está em competir com as ofertas salariais das grandes empresas nacionais e internacionais. O Brasil ocupa uma posição desfavorável no ranking de competitividade global de talentos, ocupando o 75º lugar globalmente e o 9º lugar na América Latina, de acordo com o Global Talent Competitiveness Index 2021 do Insead.
Além disso, a fuga de talentos é um problema constante, independentemente da senioridade dos profissionais. Especialistas buscam e são alvos de oportunidades mais atrativas, principalmente fora do país. Das startups entrevistadas, 73% concordam que há condições mais favoráveis internacionalmente, e 60% afirmam que a remuneração no mercado brasileiro não é competitiva em comparação com mercados internacionais.
Para tornar o mercado brasileiro mais atrativo, é necessário adotar políticas mais específicas que vão além do salário direto, considerando outras formas de participação societária que possam incentivar o crescimento profissional em conjunto com o crescimento das empresas, de acordo com André Barrence, head do Google for Startups para a América Latina.
As startups também enfrentam dificuldades em ampliar a diversidade geográfica, étnica e de gênero em suas equipes. Barreiras significativas são percebidas para contratar pessoas de regiões mais distantes dos grandes centros urbanos e para integrar mulheres e pessoas negras em seus times.
O crescimento acelerado dos negócios relacionados à inteligência artificial deve intensificar ainda mais a falta de talentos qualificados na área. O ritmo de desenvolvimento e a necessidade de se manter atualizado com as novas tecnologias serão fundamentais nesse cenário. A formação de profissionais em tecnologia precisará se adaptar e os profissionais precisarão aprender novas ferramentas, linguagens e frameworks, desenvolvendo uma mentalidade de crescimento e curiosidade para se manterem atualizados.
Luiz Othero, CEO da Abstartups, concorda que cada tecnologia emergente traz novas perspectivas de mercado e formação. Ele destaca que a inteligência artificial é transversal a todos os setores e, portanto, há uma necessidade iminente de atrair pessoas talentosas nessa área. No entanto, reconhece que formar profissionais nessas novas tecnologias pode levar algum tempo.
Diante desse panorama, o Google anunciou uma iniciativa para apoiar a empregabilidade dos profissionais que obtêm os Certificados Profissionais do Google. A parceria com o Bettha.com oferece acesso a uma trilha de conteúdo de habilidades comportamentais e prioridade no acesso a vagas de emprego anunciadas pelo Grupo Cia. de Talentos, desde que haja alinhamento com o certificado obtido pelo estudante. Essa parceria busca oferecer mais oportunidades para os profissionais qualificados no mercado de trabalho.
Em resumo, o ecossistema de inovação brasileiro enfrenta desafios como a escassez de investimentos, falta de talentos qualificados e fuga de profissionais para o exterior. As startups estão cientes da necessidade de profissionais de tecnologia e reconhecem que essa carência prejudica o progresso de seus negócios. Além disso, a falta de profissionais experientes e a dificuldade de competir com ofertas salariais atrativas são obstáculos adicionais. Para superar esses desafios, é necessário desenvolver políticas específicas, além de investir em programas de formação e capacitação, de modo a suprir a demanda por talentos e impulsionar o crescimento do ecossistema de inovação brasileiro.
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